7.21.2011

ANATOMIA DO PRESENTE

a bacia plena de descuidos, a espinha prolixa de entortamentos. e no sorriso as faces encurvam-se em covas (as covas úmidas de lágrimas quando as pede a circunstância) as mãos polpudas, as unhas enxeridas procurando assunto entre os pudores dos buracos. sempre os pés bem dispostos à preguiça. no pescoço o inconfundível colar de carrapatos - as orelhas arruinadas entre os brincos, os seios tímidos ante a franqueza do umbigo. as coxas reles a pele desamparada frente à gravidade, os joelhos resignados frente à gravidade dos calçados, dos pecados. as sobrancelhas desgarradas, as pálpebras se batendo incomunicáveis – os dentes roendo as maçãs do rosto, a língua enrolando o caroço
de morte em morte se recompõe este delicado ossuário, que assim enfeitadinho de gorduras se expõe, comungando estrias e coceiras, delicadeza que então tosse e range, pisa torto – essa carne exígua contra os desmandos da antimatéria, dos mistérios, da música – assim, amiúde, se coloca a carne exígua contra os paradigmas e as paredes, se coloca mas desafina, toda terra, formigas nas axilas

Nenhum comentário:

Postar um comentário