11.17.2011

perguntaram a ele se o poeta vê ainda futuro pra humanidade


ele respondeu: me considero um songo no assunto




"UM SONGO"
Poema inédito de Manoel de Barros

Aquele homem falava com as árvores e com as águas
ao jeito que namorasse.
Todos os dias
ele arrumava as tardes para os lírios dormirem.
Usava um velho regador para molhar todas as
manhãs os rios e as árvores da beira.
Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos
pássaros.
A gente acreditava por alto.
Assistira certa vez um caracol vegetar-se
na pedra.
mas não levou susto.
Porque estudara antes sobre os fósseis lingüísticos
e nesses estudos encontrou muitas vezes caracóis
vegetados em pedras.
Era muito encontrável isso naquele tempo.
Ate pedra criava rabo!
A natureza era inocente.


P.S:
Escrever em Absurdez faz causa para poesia
Eu falo e escrevo Absurdez.
Me sinto emancipado.

11.16.2011

refletimos






refletimos:
somos prata envidraçada.

(retire a primeira pedra
quem se surpreender pela mão ferida quando catar os cacos)

reflitamos:
somos prata aflita, imagem encarcerada:
e se dizer amor nem sempre é dizer amamos?
e no entanto dizemos

dizer de si
(só de cor)
num amor multiplicado aos estilhaços:
esse gesto dito alcançará o fundo do espelho,
todo superfície?
trará isto um outro colorido
ao brilho antigo da prata?

e dizer amor será dizer amamos,
desde si até um sol maior de um claro eclipse:
a prata da lua engolida luzirá
desde si se derramando
dissolvendo o jogo dos reflexos,
reunindo enfim fundo, superfície, substância

e dizer amor será dizer amamos,
mesmo que por enquanto digamos nós nas entrelinhas.

(no meu telhado onde a lua se olha,
atire a pedra fundamental:
cato os cacos
me faço nua
mosaico de porcelana e pedra bruta)