7.31.2011

À MESA





Os senhores hoje comerão sementes.
Algumas estão verdes,
outras – grãos de sonho apenas – são espúrias
outras ainda, desdobradas, arvorecem.

Comerão sementes e também o pêlo dos nossos bichos.
Muito enxaguada e colorida de quedas,
entretecida de sedas, horizontes,
linho, naquim, arame e estilete
(mas entretecida principalmente dos sulcos das nossas palmas e rostos)
                        - esta trama será o prato do dia.

A refeição será iluminada pelo contraste de nossos cabelos e pupilas.
Há frutas que colhemos,
outras pretendidas.
Algumas de areia,
outras putrefeitas.
Na falta de mel trouxemos muitas flores e abelhas.
Assim se explica a quantidade de terra que nos cerca -
peço então que os senhores não se incomodem com eventuais formigas
pois elas também são convidadas.


     O vinho será servido somente quando seiva suficiente correr em nossos braços.

O sol à pino, os senhores sentem.
Vejamos o dia que declina,
até incendiar-se como esse grão de romã,
até que, com a lua no copo,
brindemos a prata dos reflexos.

Os senhores sentem,
estão em casa:
hoje eu cobri a mesa com o branco dos nossos lençóis.




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